quarta-feira, novembro 30, 2005

Love Tale ...


Tudo aconteceu no dia em que os seus olhares se cruzaram. Ele acabara de entrar na tasca com uma camisa de alças ainda manchada pelo suor do seu corpo e com umas calças de ganga tão gastas que quem não o conhecesse juraria que tinha vindo até ali a cumprir, de joelhos, uma qualquer penitência. Assim que a fitou deixou escapar um sorriso que, apesar de pouco rasgado, denunciava inequivocamente a falta de um dos incisivos ... encostou ao balcão a generosa e peluda barriga, que lhe descaia sobre o cinto das calças e, com a voz mais colocada e máscula que conseguiu sacar das cordas vocais, rosnou: “óh zé ... avia-me aí uma míne e um pastel de bacalhau ...”.

Ela não conseguia desviar o olhar daquela autêntica locomotiva de testosterona, daquele Adónis da Musgueira e, após limpar da boca, com as costas da mão, as migalhas da sandes de coirato, apressou-se em fazer-se notada ... desapertou, discretamente o botão da camisa rosa choque que comprara no dia anterior na loja do chinês, borrifou-se com a amostra de colónia que lhe foi gentilmente oferecida na última edição da revista «Maria», calçou as tamancas de sola de cortiça, que entretanto descalçara enquanto comia e puxou para baixo a saia de licra amarela que se colava de tal forma ao seu traseiro que tê-la vestida, ou não, pouca diferença fazia ...

Assim que ele sentiu o aroma da colónia dela a invadir-lhe delicadamente as fossas nasais, virou-se para trás num ápice e, sem querer, pisou-lhe o dedo mindinho do pé ... a violência do amasso ortopédico fê-la soltar a mais linda asneira que ele já tivera oportunidade de ouvir vinda da boca de mulher. Ela, quando regressou da viagem alucinante pelo mundo da dor aguda, fitou-o nos olhos e disse-lhe: "tem que se assoar ... tem o nariz todo sujo...".

Enquanto ele limpava o ranho do apêndice nasal à costura da camisa, agradeceu a atenção dela e aproveitou para convidá-la a ir com ele essa noite ao baile do clube recreativo.

E assim foi ... lá se encontraram à hora marcada e dançaram ... dançaram toda a noite ao ponto de ela se esquecer do dedo negro do pé, dilacerado, ainda pela violência do pisão que levou ... fizeram juras de amor e partilharam, de olhos a brilhar, um penaltie tinto e uma dose de pézinhos de coentrada ...

E foi tiro e queda ... desde essa noite inesquecível, nunca se voltaram a ver.

E viveram felizes para sempre.

Caracolinha Romancista

sábado, novembro 26, 2005

Iniciativas ...

Eu já Alimentei esta ideia ... e vocês ????
Caracolinha Contributiva

segunda-feira, novembro 21, 2005

Maria Rita ...

Quem conhece esta voz seguramente que concordará comigo quando digo que está entre as mais bonitas da música brasileira. Acabou de lançar o seu segundo trabalho. Foi dele que retirei esta espectacular música que "vos" ofereço.

É filha da saudosa Elis Regina e, pasmem-se, dizia que não cantava porque tinha vergonha ...

Quem, como eu, teve o privilégio de a ver ao vivo no Pavilhão Atlântico, (onde cantou todo o alinhamento do seu espectacular primeiro album), a cantar descalça, a dançar com uma graciosidade estonteante, a distribuir simpatia e a encantar-nos a todos com esta voz maravilhosa, aguardará, com certeza, na expectativa, a data do próximo concerto.

Lá estarei eu, como da outra vez, para lhe gritar bem alto: ÉS LINDA !!!!

E não é que é mesmo ????

Caracolinha Encantada

segunda-feira, novembro 14, 2005

Snail's Road ...



Quem, como eu, passou pela pouco recomendável experiência de levar uma “caqueirada” de um carro saberá, seguramente, que é uma experiência que não se deseja repetir ...

O móbil da “pilada” foi um lanche ... como sempre acontecia, andava feliz da vida a saltitar na rua da minha avó, a passarinhar de um lado para o outro, como fazem todas as crianças que têm o enorme privilégio de saber o que é brincar ... como se nada no mundo me pudesse fazer distrair daqueles momentos... nada à excepção da comida, claro. Já a denunciar que seria amante de um bom repasto, ao ver a amiguinha com quem estava nas lides da recriação, parar por momentos a brincadeira e convidar-me para lanchar, não devo ter conseguido evitar que todo o sangue que me irrigava o cérebro se dirigisse de imediato para a zona do estômago ... resultado ... a lentidão das sinapses fez com que me esquecesse de uma regra absolutamente fundamental ... nunca se atravessa uma rua sem olhar e muito menos se sai a correr por entre os carros estacionados ... nem que seja para encher o bandulho !!!!

Se bem pensámos melhor o fizémos e aí foram elas direitinhas a mais uma sessão de “enfarta brutos” ... mas, qual forcado do Aposento da Moita, ao atravessar a rua completamente estouvada, peguei pelos cornos o carro de um vizinho da minha avó ...

A sensação de se ser abalrroada por uns valentes kilos de chapa é absolutamente avassaladora ... saí de cima do capot do desgraçado do homem, que apanhou um susto enorme sem ter culpa nenhuma, direitinha para a berma do passeio e aí fiquei esparramada com o ar mais esbugalhado e assustado desta vida sem me dar ainda muito bem conta do que me tinha acabado de acontecer.

Nem um minuto depois e já estava rodeada de toda a vizinhança lá da rua ... hospital com ela, radiografia para cá, exame para lá e, do mal o menos ... «a miúda deve ser rija como o aço porque se safou só com umas valentes amassadelas mas sem um único ossito partido».

Depois da “revisão” feita, voltei a casa , tornando-me, durante os dois dias seguintes em que estive de “descanso forçado”, na atracção lá da rua uma vez que, até à data, e de todos os meus amiguinhos, ainda nenhum se tinha lembrado de se abraçar a um automóvel em andamento.

Quando eu pensei que o pior já tinha passado estava a preparar-se uma segunda dose ... sempre embuidos de uma valente dose de pedagogia, os pais de alguns amigos que entretanto também me visitavam, vendo-me naquele estado, já por si suficientemente humilhante, cheia de nódoas negras, e ainda a recuperar de um valente trauma (nas vertentes física e psíquica, entenda-se), enquanto acariciavam a cabecita dos seus infantes murmuravam-lhes: «vês ? não faças como a menina, tens que ter muito cuidado a atravessar a estrada...»

Ora aí está uma coisa simpática de se ouvir recorrentemente para quem está com o corpo num trambolho ... ali estava eu .... o modelo do “como não se faz”, a estouvada da rua, a ser, desta vez, atropelada na sua paciência para ouvir alarvidades.

Mas a coisa foi ao lugar e eu aqui estou para contar como foi.

Talvez porque este foi um acontecimento da minha vida que me marcou – e de que maneira – que sou particularmente sensível (como condutora e peão) à falta de cuidado que muitos transeuntes revelam por essas ruas fora.

É vê-los a atravessar a correr e a olhar exactamente para o lado contrário ao sentido dos carros, a atravessarem à saída de túneis onde por vezes até existem barreiras lá colocadas com a finalidade de desencorajar esse tipo de comportamentos (mas um incauto é sempre um incauto), a levarem crianças pela mão com elas do lado da estrada, quando não acontece o adulto ir pela berma do passeio e a criança, de sorriso rasgado pela inocência, a caminhar pela faixa de rodagem, passeios às moscas enquanto a rua está carregadinha de transeuntes (desloco-me em trabalho e frequentemente para uma zona antiga de Lisboa, onde esse é o “prato do dia”) e um sem fim de criatividades dignas de quem nunca imaginou ser vítima de um atropelamento.

Descontando, como é óbvio, o facto de alguns condutores serem tão bons a conduzir como o Major Valentim Loureiro a fazer de conta que não é um ditador, cabendo-lhes, por isso, a responsabilidade por muitos acidentes, designadamente aqueles que ocorrem em cima de passadeiras (que para muitos “ases do volante” são apenas uma mera decoração do alcatrão, porque o branco às tiras sempre lhe dá mais vivacidade), temos que admitir que muitos de nós podiamos também abrir mais a pestana e zelar pela nossa integridade, bastando, para isso, cumprir algumas regras básicas de segurança, designadamente aquela que eu me esqueci de cumprir naquele dia em que, por mero descuido, pensei por momentos, que todo o mundo fosse meu ... pois é, os outros existem e, por vezes, descobrimos isso da pior maneira !!!!

Esta música ???? Uma descoberta recente de um grupo pelo qual me apaixonei ao primeiro acorde neste último fim de semana ... para ouvir com muita, muita atenção. E, como estou caidinha por este som, é bem provável que aqui fique muito tempo ...

Só mais uma coisinha ... a imagem que ilustra o post arrebatou-me completamente... tinha que partilhar isto convosco !!!!

Caracolinha de Casca Recomposta

quarta-feira, novembro 09, 2005

Bushices ...






Eu, se estivesse no lugar deles, também pedia muita desculpa ...

Caracolinha EmBUSHada ...

terça-feira, novembro 01, 2005

Gripe das Aves ...

Por favor .... LIGUEM O SOM !!!! Esta música, de nome A POMBINHA DA NINI, é uma verdadeira pérola do panorama musical nacional ... o seu autor, na foto em anexo, de nome Nel Monteiro – desconheço o significado de Nel ... mas aposto em qualquer coisa do tipo 007 ... my name is Nel .... MaNEL ... – resolveu, em determinada altura, brindar-nos com esta verdadeira incursão pelo mundo libidinoso de Sigmund Freud, com claras alusões e analogias que, embora de qualidade duvidosa, me fizeram dedicar-lhes algum tempo (não muito porque a minha saúde mental também não dá para tanto...) no sentido de explorar os seus conteúdos com mais minúcia.

Por isso, reproduzo aqui a letra desta excepcional ladainha pintalgada, aqui e ali, com toques de uma brejeirice absolutamente digna de quem usa no cocuruto da cabeça um tufo de cabelo tipo ninho de cuco e ao pescoço um crucifixo que faria as delicias do padre da igreja ao fundo da minha rua.

Então cá vai ... até para todos aqueles que quiserem cantarolar em conjunto com o Nel ... :

A pombinha da nini é branca e amarela,
É verdade eu já vi, a nini andar com ela,
Eu já pus a minha mão, na pombinha da nini,
Tem peninhas de algodão, é verdade, eu senti ...

Vi vi, vi vi, vi a pombinha, a pombinha da nini
Vi vi, vi vi, vi a pombinha, a pombinha da nini
Vi vi, vi vi, vi a pombinha, a pombinha da nini

A nini vai “prá” varanda, a pombinha vai com ela,
E eu cá na outra banda a ver a pombinha dela,
A pombinha da nini tem um ninho de veludo,
É verdade eu já vi, sou de “olhão” eu vejo tudo ...

Vi vi, vi vi, vi a pombinha, a pombinha da nini
Vi vi, vi vi, vi a pombinha, a pombinha da nini
Vi vi, vi vi, vi a pombinha, a pombinha da nini
Vi vi, vi vi, vi a pombinha, a pombinha da nini

( Entra o sintetizador ... )

Vi vi, vi vi, vi a pombinha, a pombinha da nini
Vi vi, vi vi, vi a pombinha, a pombinha da nini
Vi vi, vi vi, vi a pombinha, a pombinha da nini
Vi vi, vi vi, vi a pombinha, a pombinha da nini

( Entra, de novo o sintetizador ... )

Vi vi, vi vi, vi a pombinha, a pombinha da nini
Vi vi, vi vi, vi a pombinha, a pombinha da nini.

Olha Nel só duas achegas (peço perdão pela expressão “achega”, ela também um pouco libidinosa, mas não me ocorreu outra) ... francamente pá, lá o facto da pombinha ser branca e amarela já não me inspira grande confiança porque, ou o bicho fez madeixas ou então já teve melhores dias ... mas tu na outra banda a ver a pombinha dela também não me parece muito normal, porque se entendermos “a outra banda” como Cacilhas, deixa-me dizer-te que, tens uma acuidade visual digna de fazer inveja à águia do Benfica ...

Também gosto muito do pormenor do “sou de Olhão eu vejo tudo” ... fica tão bem numa frase escrita em bom Português como um ovo estrelado a cavalo numa posta de pescada cozida ...

Mas continua com essa criatividade palpitante, que isto, na comida como na música, há gostos para tudo.

Caracolinha Pimba