Ontem a noite estava fria. Muito fria. Depois de um dia de mudanças e de outras boas emoções, com o cansaço que sentia achei que não ia desfrutar daquele que seria, indiscutivelmente, o momento alto do dia ... Maria Rita ... em concerto ... mas enganei-me. Redondamente.
Para enfrentar melhor o frio e também porque uma das companheiras de incursão nocturna estava a recuperar de um encontro imediato com o alcatrão, depois de ter descoberto pela segunda vez, e exactamente no mesmo sítio, que os carris são para os eléctricos e não para as motas (não é Vespinha??) trocámos as duas pelas quatro rodas e fomos em direcção ao local onde tudo se esperava que acontecesse ... o Coliseu !!!!
À medida que os quilómetros iam sendo palmilhados a ansiedade ia crescendo. A vontade de voltar a vê-la e de ouvir aquela voz fabulosa fazia rasgar em nós aquele sorriso “parvo” que não se apaga.
Às 21.30 já estávamos nós a subir, e a ajudar a Vespinha, a “galgar” algumas das escadas do Coliseu, sim que a outra, ia ver a Maria Rita nem que fosse de maca !!!!
O espaço, que tem condições soberbas para eventos deste género, continuava a encher ... a encher ... a encher ... e ... à hora marcada ... nem mais nem menos ... e já com “a casa cheia”, como ela inteiramente merece, eis que se apagam as luzes e, quase como que por condicionamento, todos desatamos a soltar a adrenalina e a bater palmas freneticamente, a chamar por ela, porque era por ela que ali estávamos, porque ela mexe connosco, porque ela nos emociona, porque ela é única e faz questão de o demonstrar sempre. Em cada palavra, em cada gesto, em cada sorriso, em cada acorde, em cada passo de dança, a cada música.
Assim que se começam a ouvir os primeiros acordes as luzes ainda estavam apagadas ... e dela ... apenas a voz ... as luzes acendem e revelam um palco absolutamente de acordo com tudo aquilo de quem gosta de Maria Rita poderia esperar ... sobriedade, acima de tudo, mas bom, muito bom gosto ... destaco a esteira ao centro, o pano negro a servir de fundo no chão e as velas ... como não podia deixar de ser...
Músicos ? apenas quatro ... mas ninguém diria, tal era o impacto do som que saía de cada um dos instrumentos ... um piano, uma precursão, uma bateria e um contrabaixo.
De repente, aquilo que para nós era apenas o som da sua voz, ganha corpo e, do canto direito do palco, vestida quase toda de verde, eis que surge aquela por quem todos esperávamos ... descalça, de cabelo solto, gestos generosos, sorriso rasgado, simpatia contagiante ... a cantar como só ela sabe.
Assim que acaba de cantar a primeira música revela-se muito, mas muito mais descontraída do que no concerto do ano passado, até porque o espaço do Coliseu apela mais à intimidade do que o Pavilhão Atlântico e começa à conversa ... quase cinco minutos a falar, revelando um sentido de humor que provocou ruidosas gargalhadas por várias vezes e sempre com um toque de introversão que lhe assenta que nem uma luva. Mas acima de tudo humildade, que, por não ser exagerada, é absolutamente digna de a fazer merecer ainda mais consideração. Ao apresentar cada um dos músicos, agradeceu-lhes o facto de “a terem escolhido”.
O alinhamento, espectacular e cuidadosamente escolhido, mistura músicas deste álbum e do anterior, algumas das músicas apresentadas em versões com “nova roupagem”. A forma como dançou toda a noite com uma graciosidade inimitável, a forma como interagiu, como se divertiu connosco, como se encantou e nos encantou vai ficar, como já ficara da primeira vez, gravada na memória, como ficam todos aqueles momentos dos quais nos socorremos quando precisamos urgentemente do alento de um sorriso.
O final foi apoteótico ... quando ela, como só ela, levanta as mãos e “pede” a todos os que estavam sentados na plateia (e se eram muitos) para se levantarem e lhe “fazerem companhia” junto ao palco ... resultado ... dois encores e muito, muito, muito, muito aplauso, num ambiente tão quente que até fazia esquecer o frio que estava em Lisboa !!!!
Foram quase duas horas de puro encanto e de total empatia ... duas horas que passaram “a correr” e que deixaram já no ar a vontade de ver agendada a data do próximo concerto.
Uma noite que fica para contar e recordar. Sempre.
“ÉS LINDA ...” gritámos nós ... e não é que continua linda ??
Caracolinha em Concerto