quinta-feira, abril 27, 2006

Ele ...


No velho bar Blue Swan as horas arrastavam-se e os minutos escorriam devagar, como em todas as noites ...

Retiro de velhos conhecidos a quem a vida, de forma mais ou menos inesperada, mergulhou na solidão, era ponto de encontro obrigatório nas noites em que as saudades e as angústias batiam mais fortes que as horas no Big Ben ...

O ambiente do bar era escuro, apenas iluminado por umas luzes vermelhas que o faziam parecer estar em chamas, com mesas redondas e baixas e uns puff’s que alargavam no topo e faziam o corpo sentir o conforto que a alma procurava ... toda esta escuridão servia na perfeição para contrastar com o brilhante dos copos e do gelo que boiava nas mais diversas espécies de bebidas ... de vez em quando um raio de luz, semelhante a um foguete em noite de festa, quando um cigarro se acendia ...

O pianista fazia ecoar por todo o espaço a música “New Coat of Paint” do Tom Waits ... a música perfeita para acompanhar o típico pedido do “give me a double” e para acentuar ainda mais qualquer estado de angústia que invada o coração mais solitário ... mas eles aguentavam-se ali estoicamente, firmes como rochas, a engolir em seco a cada acorde que saía descomandado daquele piano e a afogar as mágoas em cada trago ...

Apesar dos frequentadores serem quase sempre os mesmos praticamente não trocavam palavras entre si ... apenas olhares ... de cumplicidade, de angústia, de vida vazia, de solidão, de batalhas perdidas, de forças esgotadas ... olhares que se espelhavam uns aos outros ... olhares de interrogação ... que de quando em vez deixavam escapar um sorriso ansioso como se adivinhassem respostas que nunca chegavam a aparecer ...

Acendiam mais um cigarro, fitavam os olhos no chão e esperavam ... esperavam que as luzes se acendessem, as únicas luzes que conseguiam dar vida áquele espaço feito de gente que se amontoava e parecia alterar entre um estado onírico e semi-onírico ...

Sim, o palco, que, apesar de pequeno, recebia aquela que, desde há anos, emprestava a sua voz para massajar a alma daqueles homens que buscavam incessantemente aquilo que pareciam nunca mais encontrar ...

Rosa Bacardi, de seu nome artístico, entovava sempre o mesmo repertório ... e assim surgia uma música atrás da outra, tudo demasiado previsível, mas ainda assim suficiente para quebrar o gelo em que se tinham transformado muitos dos corações ali presentes ...

Rosa continuava bonita, apesar de ter já vincados no rosto os sucalcos que a idade escava, mas continuava a cantar com o mesmo prazer, era inevitável vê-la sorrir ao começar cada actuação ... e como os sorissos habitualmente se contagiam era bonito ver como aqueles homens sisudos se deixavam embalar na sua voz como bebés de colo, como se cada nota que saísse daquela boca se transformasse numa mão invisível que lhes acariciava o rosto ...

De repente, quando Rosa se preparava para cantar, a sua canção preferida, numa imitação quase perfeita de Isabel Pantoja, com o seu “Marinero de Luces”, a canção que sempre, desde há muitos anos, encerrava a sua actuação, resolveu dedicá-la, em pensamento, ao único homem que alguma vez notara ali sentado com ar de quem não se sentia perdido, alguém com um brilho tão forte no olhar que poderia iluminar todo o palco se as luzes se apagassem, um homem que só podia ser bom, pensou ela, ou, de resto, não a faria sentir tão especial, mesmo assim, à distância ... e cantou como nunca tinha cantado, para alguém que nunca vira antes nem jamais voltaria a ver ...

Veio depois a saber que era apenas conhecido por Mocho Falante ... o tal homem que destoava pelas cores que pintaram, por uma noite, um bar monocromático ...

Esta é dedicada a ti, amiguinho, porque foram as nossas tonteiras que me inspiraram ... ;)

Caracolinha Bartender ...

terça-feira, abril 25, 2006

Emocionada ...


Porque hoje é o dia da LIBERDADE, da REVOLUÇÃO, vos saúdo livremente, rendendo as minhas homenagens a todos os homens e mulheres que sofreram na pele para que hoje possamos erguer a nossa voz e gritar bem alto: Liberdade sim, fascismo nunca mais ...

Para ti minha
AMIGA MAIOR, uma dedicatória especial neste dia que sei assume para ti uma importância para lá de especial e que sempre vais comemorar para a rua ... para ti ... que és uma Mulher que reúne todas as características dos valores de Abril ... pela Coragem que revelas na vida, pela grande Lutadora que és, por seres uma Resistente, pela tua Lealdade, Grandeza e Determinação, te deixo a ti (e a todos), aquela que sei ser uma das tuas fotografias preferidas ... a ti, que és a maior Amiga que jamais tive ... !!!!

Caracolinha em Liberdade

sábado, abril 22, 2006

On The Edge ...


Existem aqueles momentos que nos fazem suster a respiração ... por isso, vamos abanar o capacete, mas devagarinho, para ver se o banco aguenta ...

Caracolinha a caminho de salvar o animal dos "glúteos assassinos" ... :)

terça-feira, abril 18, 2006

Elos ...


Em resposta ao desafio lançado pela querida Wind, e apesar de atrasada, afinal eu sou uma caracolinha, continuo a seguir o lema do “mais vale tarde que nunca...” e por isso me proponho hoje seguir este elo que me faz muito sentido uma vez que se destina à divulgação de Instituições que admiramos pelo trabalho que põem em marcha em prol de quem delas necessita.

Por essa razão decidi escolher a APFADA – Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer.

Esta Associação existe desde 1988 e foi fundada pela Professor Doutor Carlos Garcia. Apoia, não só os doentes portadores de Alzheimer como, também, os seus familiares que, no caso dos doentes não institucionalizados, são a pedra basilar em termos de acompanhamento – os chamados cuidadores.

A APFADA conta com delegações a Norte (Vila Nova de Gaia), no Centro (Pombal), na Região Autónoma da Madeira (Funchal), nos Açores (Ponta Delgada) bem como o Núcleo do Ribatejo (Almeirim).

Podem aceder ao site da APFADA e ficar a saber mais sobre o magnífico trabalho levado a cabo por esta Associação.

A eles, os meus parabéns, pela dedicação, voluntarismo e obra feita que merecem, desde, já os meus maiores respeitos.

Para seguir esta corrente, que não merece ter fim, escolho mais três amigo(a)s:

- A minha querida “Crisquita”
- A minha ovelhita tresmalhada
- O meu extraterrestre preferido

PS. Papoilinha linda, não me esqueci do teu desafio ... fica para a próxima ... ;)

Caracolinha Divulgadora ... :)

quarta-feira, abril 12, 2006

"Épi Istér" ...


Uma PÁSCOA ENCARACOLADAMENTE FELIZ é o que vos desejo a todos, porque, acima de qualquer data, celebração ou crença, o que conta é a nossa infinita vontade de sermos felizes ...


Caracolinha “Pascoal”

segunda-feira, abril 10, 2006

Confabulações ...


E agora era eu que ía ali e, quando voltasse, este já era um país ao qual eu tinha verdadeiramente orgulho em pertencer ...

Caracolinha a Delirar ... :)

terça-feira, abril 04, 2006

Des-Crédito ...



Cada vez se ouve falar mais dos endividamentos excessivos das famílias portuguesas .... hoje assiti, por breves momentos, a um fórum televisivo em que se discutia o papel perverso da publicidade que leva muitas vezes as pessoas a consumirem bens de que não necessitam ou a recorrerem a linhas de crédito para cumprir este ou aquele sonho, sem pensarem depois que variáveis como as subidas das taxas de juro poderão transformar aquilo que parecia um sonho, num autêntico pesadelo ....

Neste debate assumia particular destaque o papel da publicidade de algumas instituições bancárias ... e, de imediato, me veio à cabeça aquele anúncio genial do banco que mudou de tom de cor há bem pouco tempo, onde aparece o Cristiano Ronaldo a dizer qualquer coisa como ... “com este cartão tenho acesso a descontos na prestação da casa e do carro e seguros mais baratos...” !!!!

Que boas notícias para o miúdo Cristiano que, como aufere pouco granel no fim de cada um dos meses, sempre poupa alguns tostões para ir comprar mais um par de calças à feira de Carcavelos... bem, isto sem contar com o que ele deve ter metido ao bolso com esta e outras campanhas publicitárias ...

Foi boa esta escolha do rapaz ... faz-me sentido escolherem pessoas que realmente precisam de uns descontozinhos ...

Resta-me o consolo de acreditar que muitas figuras públicas usarão também a sua imagem para a associar a causas meritórias e algumas delas até poderão contribuir com quantias generosas para algumas instituições ...

Mas confesso que me daria muito mais gozo ver, nesta e noutras campanhas, um velhinho bem velhinho a dizer qualquer coisa do género ... “com este cartão já não preciso de, a meio do mês, olhar para o dinheiro que me sobra da minha mísera reforma e decidir se hei-de comprar medicamentos ou comida para os próximos 15 dias ...

Caracolinha Corrosiva ... :)