domingo, julho 31, 2005

Vai Lá Vai ...


O domingo amanheceu lindo cá para as minhas bandas e com uma luz que invadia a mais pequena nesga de persiana que se deixasse aberta no quarto ... e eu, que para acordar estou sempre pronta, às 10 da manhã já estava de pestana aberta e numa excitação que se prolongou desde a tarde de ontem até ao culminar hoje de manhã ... é que nessas coisas, e noutras, eu sou como os putos ... assim que sonho que vou fazer uma coisa nova, e ainda por cima da qual gosto, fico imparável, as minhas usuais energias exacerbadas começam a acumular-se de uma maneira tal que já ninguém me pode aturar até à hora de pôr em prática os planos traçados ...

Este plano começou a ser traçado num usual encontro dos amigos do costume num dos últimos fins de semana ... «precisamos de fazer mais desporto...», diziam uns ... «isto de comermos que nem uns porcos e regarmos as jantaradas com os sumos do Baco e da cevada tem que ser devidamente (des)compensado com mais do que as usuais idas a natação», dizia eu em jeito de orientadora da «classe otária», qual agitadora de massas corporais, uma verdadeira «Madre Teresa do Já Não Dá» ... nos primeiros cinco minutos a coisa até parece que estava a pegar de estaca ... mas ... passados 10 minutos já toda a gente estava noutra sem me passar o mínimo cartão ... mas, espera ... no meio de toda esta indiferença restavam ainda três cabecitas voltadas para mim ... três pares de olhitos que me fitavam, três seres com um ar expectante ... afinal a minha capacidade de persuasão ainda não estava na rua da amargura, senti-me a rebentar de orgulho, pensei inclusivamente, e de forma megalómana, em enveredar por uma carreira política, tal era a minha capacidade de inflamar os ouvintes ... o mocho, o doninha e a vespa ainda pareciam estar, entre uma golada e outra nas canecas de cerveja, a fazer ressonância de algumas das minhas palavras ...

Tomei fôlego para continuar o meu discurso, durante não mais que 10 segundos ... o tempo suficiente para que o doninha adormecesse no sofá e o mocho se esquivasse de fininho ... o meu olhar percorreu num milésimo de segundo os 2 metros que me separavam da vespa ... eu não acredito, ela ainda está a olhar para mim ... era a minha única esperança, neste universo de preguiçosos e amantes de uma boa mesa, seguida por uma jogatana pela noite dentro.

«Então, Vespum, como é que é ???? vamos ou não comprar as raquetes de squash ????», resolvi fazer a pergunta assim a matar, para não lhe dar muito tempo para pensar ... «vamos sim !!!!», respondeu ela com um ar decidido, mas que denunciava algum receio pela forma ardente com que me ouvia falar !!!!

E se bem pensámos, melhor fizemos ... ai foram elas, uma semana depois, neste sábado à tarde para a Decatlon em busca das raquetes perdidas ...

Mexe daqui, procura dali, experimenta de acolá, e lá saíram as outras da Decatlon com um ar triunfante, com todos os materiais necessários para começar, no dia seguinte esta nova aventura desportiva até à data absolutamente desconhecida ...

Assim que me apanhei com o raquetum nas ganfarras fui possuída por uma vontade imensa de começar a jogar ... a vespa, que já me conhece de ginjeira, sorria como só os amigos tão bem sabem fazer quando vêem os outros felizes, se bem que conseguisse vislumbrar alguns laivos de arrependimento no seu rosto quando me via de raquete em punho a simular grandes jogadas contra o vento que se fazia sentir na altura, junto à Decatlon.

Combinámos no sábado à noite que a primeira a acordar na manhã de domingo ia imediatamente chamar a outra, pelo que a Vespa me disse, «bem, como já sei o que a casa gasta ... só te peço que não me acordes muito cedo...».

É claro que eu ia ser a primeira a acordar ... na excitação em que estava só faltava abrir um espaço na cama e dormir ao lado das raquetes !!!!

Chegou o grande dia ... domingo, um dia que não aprecio particularmente porque todas as pessoas ficam com ar «domingueiro», um ar que não consigo definir com perfeição mas com o qual não identifico ... como me recuso em absoluto a pôr os pés na praia aos domingos porque não tenho muito feitio para fazer de pecinha de puzzle, daquelas que precisam de pedir licença a 50 pessoas para arranjar um espacinho para se encaixar nos 15 cm de areia que a populaça lhe decide gentilmente conceder, acabo sempre por magicar outras opções, bem menos povoadas.

Por volta das 11 horas já eu estava com o dedão colado à campainha da Vespa, equipada a rigor, de laranja e preto, com um sorriso rasgado e um ar saudavelmente desportivo ... a Vespa abre a porta com o ar mais estremunhado desta vida e com o corpinho ainda morninho e acabado de sair directamente do colchão. Abriu aquilo que melhor conseguiu fazer assemelhar–se a um sorriso e disse-me a frase mágica ... «estou esganada de fome ...».

Lá fomos as duas tomar um pequeno almoço revigorante num café perto de casa para acumular as energias de que desconfiávamos ir precisar ...

Chegadas ao Inatel, em plena zona de Alvalade, estacionámos junto a uma das portas de entrada e dirigimo-nos ao segurança com o intuito de alugar o espaço que ia fazer de nós mulheres novas e saudáveis !!!!

«Pois é... mas é que antes de virem aqui têm que ir à secretaria comprar a senha...» disse-nos o segurança simpaticamente recolhido na sombra do seu guichet, enquanto nós, debaixo de um calor implacável do meio dia, olhávamos para o percurso que teríamos que fazer a pé para comprar a malfadada senha ... «olha, deixa lá, sempre serve de aquecimento...», dizia eu para consolar a Vespa ... e lá nos metemos ao caminho, o que equivale a dizer, lá atravessámos as instalações do Inatel de uma ponta à outra debaixo de um calor tão intenso que a cada passo que dávamos deixávamos sair uma gargalhada nervosa para ajudar a tornar mais leve o caminho.

Chegadas à sombrinha da secretaria eis que a Vespa reencontra um colega de faculdade e eu encontro uma amiga que já não via há anos... são momentos destes que nos fazem acreditar que não há coincidências ... saudades desfeitas era hora de erguer a cabeça e enfrentar o percurso de volta à porta da entrada para ir buscar as chaves do campo.

Eis-nos chegadas ao destino, já agastadas de tanto andar ... abrimos a porta, arrumámos as sacolas, pegámos nas raquetes ... e ai vão elas em direcção à parede que iria receber as boladas que estávamos na disposição de lhe dar ... quanto mais não fosse para descarregar a frustração depois da caminhada que fizemos.

A Vespa, logo na primeira jogada, e ainda entontecida pela caminhada e sequinha pelo calor que se fazia sentir, resolveu dar uma sticada tão forte na pobre da bola que teve que a ir buscar ao campo de ténis ao lado ... «isto começa bem ...» disse ela com um ar num misto de raiva e amargura ...

E lá foi ela, andar mais um bocadinho (já tinha andado pouquinho ...) ... eu mal a vi chegar, e com o entusiasmo de a rever, sorri-lhe e lá dei uma pancada mais alta ... e lá fui eu conhecer também o campo de ténis do lado... isso aconteceu-nos mais 5 ou 6 vezes a cada uma durante os 40 minutos que lá estivemos !!!!

Passados 30 minutos já estávamos as duas mais mortas que vivas ao ponto da Vespa se ter sentado com um ar transfigurado e me ter dito, baixinho, muito baixinho, porque as forças já não davam para mais «eh lá ... isto faz-nos bem heim...????»

Não se tem a mínima ideia do esforço que é necessário empregar para atirar a malfadada bola de encontro aquela parede ... a determinada altura as pernas já não queriam responder, os braços já tremiam do esforço, o suor escorria em bica, mas a sensação de concretizar uma vontade fazia-nos esquecer por momentos que parecíamos ter um bando de Rottweilers a morderem-nos os calcanhares !!!!

Saímos de lá depois de bebermos um litro de água cada uma e chegámos ao carro a sorrir. Pedi à Vespa que trouxesse o meu carro mas disse-lhe para ter cuidado e não adormecer ao volante porque no estado de cansaço em que estava podia ficar KO de um segundo para o outro !!!!

Foi uma manhã muito bem passada e uma experiência que vamos passar a repetir, pelo menos 3 ou 4 vezes por semana, porque, como diz a minha companheira de treinos ... «isto não há nada como continuar...» ... assim é que é, hajam mulheres de coragem e companheiras inseparáveis de aventura, como nós somos as duas ... bem podem vir paredes, raquetes e bolas que nós cá estaremos para contar como é !!!!

Não fosse o jantarinho hiper calórico que acabámos de ter na casa do Mocho e a garrafinha de BSE, deliciosamente gelada, que despejámos num ápice e tinha sido um dia desportivamente memorável...

Mas enfim, as coisas demasiado perfeitas também perdem a sua graça ...

Caracolinha Gastricamente Reconfortada

sexta-feira, julho 29, 2005

Amizade no Feminino ...


Se fores chata, as tuas amigas perdoam, se fores agressiva, as tuas amigas também te perdoam, se fores egoísta, as tuas amigas ainda assim vão perdoar-te ...

Agora, experimenta ser Magra e Linda ...

Caracolinha Muito Amiga !!!!

quinta-feira, julho 28, 2005

É ou Não É ??

Hoje apetece-me partilhar um pensamento que uma querida amiga me enviou e que nos faz pensar acerca da importância, ou não, que damos às coisas que nos acontecem e da relatividade com que as interpretamos ...

É uma frase simples, mas, na maioria dos casos, é no meio das coisas simples que encontramos as grandes verdades, os grandes valores e que nos encontramos a nós próprios.

« A vida não é medida pelo número de vezes que respiramos,
mas pelos momentos que nos tiram a respiração ... »

Caracolinha Pensativa

quarta-feira, julho 27, 2005

Ontem ...


Ontem quando olhei pela janela da sala ela abatia-se com uma força inesperada... a chuva ...assim que me apercebi de como caía fui a correr para a janela pôr os bracinhos de fora e sentir essa frescura que só ela proporciona ... e inspirar o mais fundo que consegui ... tantas vezes quantas fui capaz.

Amo sentir o cheiro que se propaga no ar, o cheiro que a chuva traz consigo, amo aspirar o perfume da relva que acaba de ser molhada e da terra humedecida pelas gotas ... amo ver as folhas caírem das arvores com a força da chuva e embaladas pelo vento irem parar, sem destino, onde menos se espera.

Que noite maravilhosa, que fresca a chuva que caia. Tudo me pareceu ter ficado mais verde, mais brilhante, mais limpo, mais cheiroso, mais macio ...

A chuva de ontem massajou-me a alma e refrescou-me o espírito ... e desfrutei dela com todos os sentidos - sem os distinguir, como diz alguém que eu «conheço» - como deve ser, e da melhor forma que pude e que soube.

Esparramei-me no sofá, com uma nesga da janela aberta, enrroscadinha ao cão mais lindo do mundo, que suspirava profundamente como se ele também estivesse a usufruir na plenitude daquele momento mágico, de olhos fechados, à média luz, a ouvir um dos sons mais relaxantes que conheço e a gozar cada segundo ... ou não fosse eu uma mulher do Inverno ....

Foi uma daquelas noites que significaram muito para mim e para o meu cão.

Para mim porque tive oportunidade de «olhar para dentro», para o meu cão porque, como me ama, dividiu comigo até à exaustão aquele momento de introspecção ...

Caracolinha Impressionista

segunda-feira, julho 25, 2005

Em Espelho ...

Quando alguém demora muito tempo a fazer alguma coisa, dizemos que é lento ... mas quando sou eu, sou meticuloso;

Quando alguém deixa alguma coisa por fazer assumimos que é preguiçoso ... mas quando sou eu que não faço, é porque estou demasiado ocupado;

Quando alguém faz alguma coisa sem que lhe tenham pedido achamos que está claramente a ultrapassar os limites e as suas competências ... mas quando sou eu a fazer a mesma coisa é porque revelo iniciativa;

Quando alguém defende com energia a sua opinião assumimos que está a ser teimoso ... mas quando sou eu a ter essa atitude é porque sou firme nas minhas convicções;

Quando alguém comete um erro pensamos que é óbvio que aquilo tinha que se dar ... mas quando sou eu a comete-lo foi pura falta de sorte;

Quando alguém negligencia alguma regra de etiqueta é porque é rude e malcriado ... mas quando isso acontece comigo é porque sou muito distraído;

Criticamos a teimosia, mas louvamos a persistência. A primeira é uma das características do nosso vizinho, enquanto a outra é uma das nossas qualidades ...

E é por essa razão que se torna difícil corrigir as nossas falhas, porque só as reconhecemos nos outros ...

Li qualquer coisa parecida com isto algures ... e apeteceu-me partilhar ...

Caracolinha Reflectora

domingo, julho 24, 2005

«Sexo» ou «Cego» ????

Tendo ontem tido um tempinho extra para me passear nos blog’s do costume fui dar de caras com uma troca de palavras engraçada numa resposta a um comentário ... um autêntico «acto falhado», como, de resto o classificou o seu autor, e que veio a dar o mote para este post por me ter levado a uma curiosidade gigantesca sobre qual a explicação para o engano. Sim, porque tudo tem uma explicação, nada acontece por acaso !!!!

Disse o «miúdo» que «não era do cego feminino» ... e isto deixa-me a pensar ... trocar a palavra «sexo» pela palavra «cego» e, ainda por cima, no «feminino» ...

Esta simples troca de duas letras leva-nos a colocar a seguinte questão: serão cegas todas as mulheres que não pensam em sexo, e aqui temos que atribuir à palavra cego um sentido figurativo, do tipo, são mulheres que andam «fechadas para o mundo», ou será que todas as mulheres que não têm oportunidade para desfrutar dele por razões que não se prendem directamente com a sua vontade, têm fortes probabilidades de desenvolver graves problemas de visão com o passar do tempo ????

É que encontrar uma explicação plausível para esta questão atempadamente pode significar a diferença entre termos ou não que pedir com urgência fundos à Comunidade Europeia para investir em Centros de Treinos para cães guias !!!!!!

Aceitam-se sugestões para desatar este nó ...

Caracolinha Psicanalítica

sexta-feira, julho 22, 2005

Faz Hoje UM MÊS que « Saí da Casca ... »

Pois é ... faz precisamente hoje UM MÊS que me iniciei nesta aventura do Snail Tale ... o tempo passa depressa quando nos divertimos, e quando hoje me dei conta que já tinha passado tanto tempo desde o primeiro post, apercebi-me também que a minha motivação para aqui escrever com tanto entusiasmo se deve essencialmente a todos vocês que usualmente me fazem estas simpáticas e ternurentas visitas.

Queria agradecer-vos a todos os bons momentos que (julgo) temos vivido aqui na casquinha ... afinal, o que é a vida sem a partilha ????

Que o tempo sirva sempre para nos unir ainda mais.

Beijinhos a festejar o PRIMEIRO MÊS DE EXISTÊNCIA !!!!

Um BEIJINHO ESPECIAL aos «Padrinhos» e AMIGOS DO CORAÇÃO, Vespinha e Mocho.

Caracolinha Festiva

quinta-feira, julho 21, 2005

« DesaFINANÇAS ...»

Qual não é o meu espanto quando, ontem à noite, vinda eu ainda a viver as réstias de felicidade que trazia por ter estado a nidificar com o amigo mocho, mais os amigos do costume, chego a casa ainda de sorriso rasgado ... ligo a televisão do quarto e ... o meu queixo cai .... sento-me à bordinha da cama assistido incrédula à notícia que passava na SIC Notícias ... o Ministro das Finanças «deu à soleta», «pôs-se ao fresco», «bazou», «deu de frosques», «raspou-se», «levantou a âncora», «saiu», «abandonou o cargo», «pôs o lugar à disposição», «apresentou a sua demissão» ... seja lá que nome lhe dermos continua sempre a parecer estranho...

E parece-me estranho por muitas razões mas, essencialmente por esta: como é que é possível que um homem, que há bem pouco tempo, tomou decisões de uma violência extrema (não está aqui em causa a intenção com que decidiu), que nos afectam a todos, e de que maneira, que podem marcar a diferença entre o desabar ou não de muito orçamento familiar, se lembre agora de dizer que já não lhe apetece mais jogar a este jogo ????

Eu até percebo que, de facto, ele possa ter ponderado que perder as chorudas reformas das quais beneficia o podia fazer vacilar entre continuar ou não ... mas porque é que ele não se lembrou logo disso ????

Foi preciso primeiro arrasar com o nosso, já parco, bem estar, fazer-nos pagar (AINDA) mais IRS, aumentar o raio do IVA e, em consequência disso, o preço de quase tudo aquilo em que tocamos, continuar a insistir em enveredar por projectos megalómanos que, quando espremidos, acabam por nos fazer ver que a montanha pariu um rato, fazer de conta que estava a dar um bom exemplo a prescindir das suas reformas para, afinal, voltar a trás e roer a corda.

Mas agora pergunto eu ... e quem é que vai ficar cá a pagar a factura das argoladas que entretanto ele se entreteve a fazer ?? Os do costume, claro !!!!

O que me horroriza, neste e noutros governos com que já tivemos levar, é a impunidade com que exercem as suas funções ... prometem mundos e fundos nas campanhas, todos, sem excepção, ganham as eleições à conta dessas tretas, porque o povão, já desesperado, parece o burro atrás da cenoura e vai a correr, perseguindo as ilusões porque tem que acreditar nalguma coisa e depois é vê-los ... todos iguais. Chegam à cadeira do poder e olham todos para os papeis com o sobrolho franzido, abanam a cabeça, franzem de novo o sobrolho, abanam outra vez a cabeça e lançam a célebre frase «realmente, a situação do país é caótica...».

Mas digam-me lá por favor se sou eu que estou com os copos ou se é preciso um tipo ser Ministro, Secretário de Estado ou mesmo Deputado para ver que este país já passou o prazo de validade há muito tempo ... para ver que se continuam a revezar no poder partidos que passam a vida a dizer que a culpa é do outro ... assim até parece que não custa nada ... sim porque se continuam a esbanjar milhões a alimentar uma máquina estatal que já está mais ultrapassada que os cortes de cabelo do Marco Paulo, e não se vê nada a melhorar, antes pelo contrário.

E o pior é que olhando à volta as alternativas são todas tão credíveis como os milagres anunciados por algumas igrejas que nascem por ai como cogumelos ...

Por isso Sr, agora Ex, Ministro das Finanças, que a vida lhe seja leve, e deixe estar-se sossegadito que nós cá ficaremos todos com um sorriso estampado na fronha a pagar a factura das belas obras que decidiu edificar durante este tempo em que desfrutou deste brinquedinho que lhe puseram nas mãos ...

O meu muito obrigada pelo seu empenho e pelo carinho com que transformou a minha vida numa surpresa diária ... porque agora, quando vou pôr gasolina, nunca sei quanto é que vou pagar por ela não é ????

E há lá coisa melhor do que quebrar a monotonia na vida de um cidadão ????

Caracol Espantado

A Passo de Caracol ...

Depois de uma árdua batalha e de longos dias de desgaste neuronal, agravados por algumas doses de frustração associada a derrotas sucessivas, que são inerentes a este fantástico fenómeno que é a aprendizagem, contando com a prestimosa colaboração do querido Mocho, que me deu um papel (cor de rosa !!!!????) que eu fiz o favor de perder e de umas «explicações» feitas «à redea solta» e de forma intensiva, gratuíta (!!!!) mas, acima de tudo, muito eficaz ... finalmente parece que já consigo pôr estes link’s nos post’s que ficam todos janotas ... um pequeno passo para a Caracolinha, um grande passo para o mundo dos Bloggs ...

Isto prova que, mesmo a passo de Caracol, o importante é chegar ao destino ...

Este post é dedicado a ti IM ... vê lá se não vai ter contigo direitinho ????

A todos um MUITO BOM DIA e uma beijoquinha minha !!!!

Caracol Feliz com a Nova Conquista

quarta-feira, julho 20, 2005

Parabéns Mocho !!!!


Sabes mochinho, nós andamos do lado “colorido” da vida porque só assim nos faz sentido sermos felizes... e porque és meu amigo e irmão desde sempre, nesta amizade que selámos com aquele “famoso” abraço à saída da faculdade “naquela noite” de Novembro, te quero dedicar todas, mas todas, estas palavras. São para ti. Que as mereces. Uma a uma.

Respiramos o mesmo ar, rimos até sufocar, entendemo-nos sem mais, e sem palavras banais, falamos a mesma língua,

Já demos os mesmos ais, chorámos as mesmas lágrimas, sempre e sempre a querermos mais, empurramo-nos para cima, seguramo-nos ao colo, somos meninos pequenos, tocamos o mesmo solo,

Caímos e levantamo-nos, serramos as nossas vidas, lambemos as nossas feridas, cantamos a uma só voz, sem nunca ficarmos sós, damos sempre o mesmo abraço, pisamos a mesma areia, fazemos a nossa teia e flutuamos no espaço,

Sentimos o mesmo gosto, saímos à mesma hora, e encontramo-nos depois, seja lá dentro ou cá fora, tocamo-nos à distância, olhamos o mesmo céu, acalmamo-nos a ânsia, mesmo nas noites de breu,

Abrimos o coração, socamos a mesma dor, estendemos a nossa mão, já chorámos por amor, recolhemo-nos juntos e acordámos felizes, resgatámo-nos da tristeza, falámos de cicatrizes,

Entregámo-nos sem mais, ficámos de olhos abertos, nós somos mesmo os tais, que estamos sempre por perto, e sorrimos de conforto, por nos sabermos irmãos, ancorámos neste porto, sem sabermos a razão,

Somos a mesma criança, fazemos um ar de mimo, sabemos a semelhança, nunca perdemos o tino, dizemos que queremos mais, somos meninos pequenos, temos ciúmes brutais, e jamais nos perderemos,

Porque um dia que te vir, num sítio onde não estou, já nem tu te reconheces e já nem eu sei quem sou...


Espero que tenhas gostado porque cada uma destas palavras foi escrita por mim a pensar em ti.

Desculpa se te pareço egoísta mas esta música é para NÓS ... porque será ??

Amo-te Mocho, AMIGO E IRMÃO DE SEMPRE. Amo-te Profundamente.

MUITOS PARABÉNS

Caracol Celebrador

terça-feira, julho 19, 2005

Para Ti C.

Recebi esta mensagem, que agora reproduzo na íntegra, pela mão de uma pessoa que conheci no meu emprego há relativamente pouco tempo, mas que depressa passou a fazer parte do «meu mundo».

Isto porque nestes dias repletos de banalidade, conhecer alguém que faz da sensibilidade a sua arma de arremesso, acaba por ser uma lufada de ar fresco, semelhante àquela que se tem quando se abrem as janelas de uma casa que já se encontra fechada há muito tempo ...

A ternura que dizes que eu tenho pelas «pessoinhas» é apenas e também o reflexo da tua própria ternura. És uma grande mulher e tens uma linda filha em cujas histórias me prendo pela beleza que emana de cada palavra com que as descreves. És uma pessoa com muita luz. És uma pessoa feliz porque a ti retorna todo o bem que trazes à vida de quem te rodeia.

Esta tua mensagem fala das avós, um assunto que me é particularmente grato – não só pelo que já tive oportunidade de dizer neste blog mas também porque tenho uma verdadeira devoção pela 3ª idade (como sabes) – mas isso fica para outro post.... esta descrição de avó podia bem ter sido feita por mim, em qualquer idade...

Sei que vais CORAR MUITO quando leres este post que te é inteiramente dedicado, mas esta é uma homenagem absolutamente justa à pessoa que és.

Obrigada minha querida C. Gosto muito de ti e admiro-te muito.

As tuas palavras são as que aqui deixo a verde, a cor da esperança. O teu mail é o que reproduzo a azul, a cor do mar. As minhas palavras para ti são laranja, a minha cor.

«Provavelmente já conheces, mas a ternura que tens pelas pessoinhas mais crescidas deve ser porque também pensas como uma criança naquilo que é essencial.»

Artigo redigido por uma menina de 8 anos e publicado no Jornal do Cartaxo. Uma delícia!

«Uma Avó é uma mulher que não tem filhos, por isso gosta dos filhos dos outros. As Avós não têm nada para fazer, é só estarem ali. Quando nos levam a passear, andam devagar e não pisam as flores bonitas nem as lagartas. Nunca dizem "Despacha-te!". Normalmente são gordas, mas mesmo assim conseguem apertar-nos os sapatos. Sabem sempre que a gente quer mais uma fatia de bolo ou uma fatia maior. As Avós usam óculos e às vezes até conseguem tirar os dentes. Quando nos contam histórias, nunca saltam bocados e nunca se importam de contar a mesma história várias vezes. As Avós são as únicas pessoas grandes que têm sempre tempo. Não são tão fracas como dizem, apesar de morreram mais vezes do que nós. Toda a gente deve fazer o possível por ter uma Avó, sobretudo se não tiver televisão.»

Caracol Familiar

domingo, julho 17, 2005

« AAAAAAAAíííííííí a Minha Vida .... »

Noite de sexta feira. Início de fim de semana. Mãe a sul a gozar os prazeres do seu refúgio algarvio e da sua merecida reforma que chegou há mais ou menos um ano. Padrasto a caminho para se juntar a ela. Amigos. Os do costume.

Está tudo combinado há mais de uma semana, com a Vespa a liderar o processo pois é ela a Xutomaníaca...

Apesar de ter dançado muito nos anos 80 ao som de músicas como «n’américa», não posso eleger os Xutos como estando no topo das minhas bandas preferidas, se bem que estão logo a seguir. Digamos que sou simpatizante, principalmente, depois do grande concerto a que assisti no Pavilhão Atlântico em Outubro último. É impossível ser indiferente à qualidade do som, à empatia dos Xutos com o seu público, à sua humildade e à descontracção e absoluta satisfação que revelam em palco.

Tudo o que envolve Xutos é para a Vespinha tão importante como é para o Marques Mendes correr com o Isaltino e com o (pseudo) Major Valentim para fora do PSD. Por isso foi levar com ela a semana toda com uma conversa recorrente do tipo «na 6ª feira não se atrasem heim ???? é para estar às 21 no sítio que combinámos...», com músicas e posts de Xutos no seu blog e por ai adiante.

Que, como diz o Mocho, a Vespa quando gosta nunca é pela rama. E é também por isso que todos nós gostamos dela desde a raiz do ferrão até à ponta das antenas !!!!

A equipa que se ia juntar à hora combinada já estava formada e incluía: a Vespinha como ponta de lança destacada, no meio campo o ZP. e a C., a Galinha como trinco e «à defesa» eu e o Mocho que, de todos, éramos os menos Xutodependentes ...

Depois do feliz encontro com um quarto de hora de atraso, apresentações feitas a quem eu não conhecia – ZP. já te disse que foi um prazer conhecer-te???? – eis que fiquei a saber que a nossa equipa integrava um suplente que eu estava também prestes a conhecer, o P., bem simpático, por sinal.

E lá fomos os sete fantásticos a caminho do Alfredo Keil, em Monsanto.

Quando chegámos, depois de 5 minutos a andar do carro até ao local do concerto, deparámo-nos com o cenário do costume: pessoas de todas as idades, desde bebes de colo com o famoso lencinho vermelho na cabeça, a senhores e senhoras de uma idade respeitável que bem podiam ser meus avós – e este lado é, também, intrínseco aos Xutos. Não há idade para se gostar, todos estavam lá com o mesmo intuito, o de prestar mais uma homenagem à sua banda de eleição porque também é isso que os Xutos fazem aos seus fãs quando tocam. Homenageiam-nos a cada acorde, tocam-lhes com cada palavra, abraçam-nos com cada actuação.

Quando escolhemos o lugar para poisar olhámos em volta e sorrimos. Não podíamos deixar de sorrir com aquela cumplicidade que anos de amizade confere, ao vermos pessoas como aquela senhora dos seus cinquenta e muitos anos, com um visual que ancorou nos anos 80, que vestia uma camisola azul bebe com uns enchumaços do tipo futebol americano e ao pescoço um colar da mesma cor da camisola composto por umas bolas de um tamanho descomunal que se assemelhavam a bolas de ping pong. À nossa frente dois casais cada um com seu bebe de lenço vermelho na cabeça, tiravam, orgulhosos, fotos dos rebentos.

Por volta das 22 e 10 as luzes apagam-se e anuncia-se que afinal de contas o concerto de Xutos vai ter uma primeira parte trazida por um grupo com um nome tão estranho como, na minha modesta opinião, a própria música que tocavam. SK6. Para quem aterra de pára-quedas e vai fazer a primeira parte de um concerto de uma banda como os Xutos, a tarefa é árdua. E, de facto, foi. Eu e o mocho não conseguimos evitar autênticos ataques de riso durante a sua actuação, principalmente quando eles diziam «agora vamos tocar uma que toda a gente conhece» e era ver as pessoas a encolher os ombros como que a perguntar de que raio é que eles estariam a falar...

Percebi que tocaram uma música dos Delfins (nem me lembro qual, acho que recalquei), e que tiveram o condão de a tocar quase tão mal como os próprios. Fora isso, nada mais.

Acabado que foi, pelo menos para mim, aquele martírio, finalmente o clima aquece quando se percebe que a entrada dos Xutos em palco está eminente.

Fui a correr para me aconchegar junto às peninhas do Mocho, pus as mãos na sua cinturita, encostei-me às suas costinhas e assim ficamos, juntinhos e a saltitar até ao fim do concerto que durou quase duas horas – os Xutos não brincam em serviço.

Do desfile com que nos brindaram destaco aquelas que mais gostei de ouvir: «o mundo ao contrário», «aí se ele cai», «n’américa», «maria», «a casinha», «dá um mergulho» e «dia de são receber» (esta última música provoca em mim um estranho efeito furacão que me faz dançar tresloucadamente sem parar um único segundo, se quiserem ouvi-la enquanto estão a ler este post, basta ligarem o som).

No final eu e o Mocho já estávamos mais para lá do que para cá e a Vespa, fresquinha que nem uma alface, continuava a debitar letras de músicas incessantemente e de asas no ar a aplaudir tudo e mais alguma coisa, com os olhitos a brilhar de tanta satisfação !!!!

No final um encore de mais 15 ou 20 minutos, sempre com a Vespa a bombar (ao ponto de, já no final, eu e o mocho que já estávamos sem pedalada para tanto gás, começarmos a gritar «CALEM A VESPA», «AMARREM A VESPA»), a banda despediu-se de todos atirando as t-shirts que envergavam aos fãs que estavam mais junto do palco.

Depois foi o regresso a casa com o sabor de mais um momento especial partilhado.

Uma noite que significou um verdadeiro XUTO no tédio e um PONTAPÉ na vulgaridade...

Parabéns Xutos.

Obrigada Mochinho pela reportagem fotográfica e pela cedência da fotografia.

Caracol Repórter X

sábado, julho 16, 2005

« Já Vai .... »


Pois é, ontem o dia começou benzinho ... os planos incluíam um início de manhã desportivo, sim porque de manhã é que se começa o dia. Mas a realidade revelou um surpresa muito maior.

Acordei á hora habitual e segui o ritual de aprumo diário. Ao calçar a última das duas sandálias ali estava ele já ao meu lado, com aquele ar dengoso que tão bem sabe fazer quando quer conquistar uma ida à rua que é inteiramente sua por direito. É impressionante como ele sabe quando chega a hora de o levar a passear, e ontem não foi excepção. Disse-lhe o que digo sempre para ele refrear aquela ansiedade do xixi matinal mas qual quê ... é vê-lo de roda de mim aos saltos e a ladrar naquele tom de desafio.

E lá fomos os dois fresquinhos e cheirosos numa manhã que já deixava transparecer uma luz que estampa na cara de qualquer pessoa um sorriso rasgado.

Elevador connosco, rés do chão marcado, e ai vamos nós a toda a velocidade, nada de novo se, quase a chegar aos rés-do-chão, o elevador não tivesse parado abruptamente a meio da viagem sem chegar ao nosso destino, para nossa grande surpresa e admiração. E parou, para nosso azar, no pior sítio. Nada de ficar entre andares, não, o elevador devia querer mesmo testar a nossa resistência e, em frente a uma parede totalmente fechada que antecede a chegada ao rés do chão, apenas nos deixou uma nesguinha de uns 30 cm para ver a luz do dia ... assim que a geringonça parou o meu cão Freud olhou para mim com aquele ar que só ele tem como que a dizer: «então? Não abres a porta????»

E eu, com o corpo ainda a reagir fisiologicamente àquele contratempo, disse-lhe: «FREUD, FICÁMOS PRESOS NO ELEVADOR....!!!!», ao que ele me respondeu com um abanar intenso de cauda como se eu acabasse de lhe dizer que tinha ganho o Euromilhões.

Ainda tentei o truque do botão de STOP que já me salvou em situações de clausura menos graves que esta, mas desta vez, e para aumentar ainda mais o meu sufoco, nem sequer fez com que o raio do elevador de movesse um milímetro.

Quando dei por mim já estava de dedo colado ao botão do alarme que fazia soar uma sirene que, para minha esperança, se deveria ouvir tão bem fora como eu ouvia dentro do malfadado elevador. Mas lá largar o botão é que eu não fui capaz, era carregar a toda a força na esperança de ouvir uma voz do outro lado que significaria o caminho da liberdade.

Que bom, eram 8.30 da matina, a senhora que está encarregue da vigilância do prédio está de férias e só sobrava a outra senhora que faz a limpeza que deve perceber tanto da mecânica de elevadores como eu percebo da cozinha tradicional do médio oriente.

E o cão ali estava, sem perceber porque carga de água esta viagem de elevador estava a demorar tanto tempo. Por momentos convenci-me que ele pensou que estávamos a atravessar o centro da terra e que íamos fazer xixi à Nova Zelândia.

Percorro rapidamente a minha lista de contactos memorizados naquilo que ainda restava da minha capacidade mental e concluo rapidamente que ninguém estaria em casa àquela hora.

Ligo à minha querida Vespa (haja uma coisa boa, no elevador o telemóvel tem rede) que é a correspondência feminina do grande e saudoso MCGiver (grandes anos 80) que apenas com um canivete (que creio que nem era Suiço) desmantelava bombas e entrava nos sítios mais blindados e saia sempre com o cabelinho arranjado e sem uma única nódoa, e digo-lhe: «Ai mulher, estou aqui presa no elevador da minha casa». E ela, para meu contentamento disse-me: «daqui a nada estou ai, já vou a caminho...».

De repente, e porque ainda continuava a carregar no botão do alarme, pareceu-me ouvir uma voz do outro lado a dizer «jjjjjááááá vvvvaaaaaiiiiii....», era a senhora da limpeza que já tinha detectado o meu estado de histeria generalizada.

Oiço-a a desligar o comando do elevador e de repente as luzes apagam-se e apenas sobram as luzes de presença. Eu e o bicho ficámos na penumbra, apenas iluminados por aquelas luzes que transformavam as nossas silhuetas em esboços de um qualquer desenho.

Quando ela volta a ligar o comando do elevador, o raio do aparelho teve a mesma reacção que o George Michael teria ao ver a Angelina Jolie toda nua: nenhuma !!!!

Já tinham passado mais de 10 minutos e eu ali mais o desgraçado do Freud.

Foi ai que eu perdi o que restava do meu, já pouco, controlo ... «eu quero sair daqui, tire-me daqui...» ... quando de repente oiço, do outro lado da porta do elevador, uma voz familiar: «Óh Dona Maria, vá lá buscar a chave e abra a porta do elevador....».

Era a Vespinha, que entretanto já estava do outro lado a comandar a operação de resgate.

Assim que conseguem abrir a porta do elevador, lá me pus de cócoras e lá vi o panorama que me aguardava, pela famosa nesga de 30 cm que o elevador decidiu gentilmente conceder-me, a Vespa de mãozinha estendida para me acalmar e a D Maria de vassoura na mão. Por momentos convenci-me que a mulher me fosse dar uma vassourada por já não me poder ouvir aos berros, como que a dizer «cala-te histérica....!!!!».

A Vespa, zelosa como é seu hábito, disse logo «passa para cá o Freud...», e lá foi ele em segurança, através da nesga do elevador para as asas da Vespa que o libertou a ele e à sua bexiga. E eu, lá continuei enclausurada. A vantagem de termos grandes amigos por perto é que eles sabem sempre o que dizer nestas alturas.

De repente vejo mais uma cabecita a chegar e a juntar-se às duas que já me eram familiares. Era uma das doces vizinhas do meu andar que ao chegar fez uma pergunta absolutamente desnecessária: «Então o que é que aconteceu????»

Apeteceu-me responder-lhe: «Nada, não aconteceu nada, fui eu que me fechei aqui dentro de propósito porque sou muito egocêntrica e queria muito chamar a atenção das pessoas sobre mim !!!!» ... contei até 10 e disse-lhe: «olá, está boazinha ???? foi o elevador que parou de repente e eu fiquei aqui fechada...».

Já lá iam 15 minutos... e eu pensava que a situação não podia piorar mais... mas enganei-me quando de repente a vizinha se sai com esta pérola: «oiça lá, porque é que não tenta enfiar aqui a cabeça neste buraco ...???? é que se passar a cabeça passa o resto....».

Apesar de ela ser um doce de senhora e absolutamente prestável, convenci-me por momentos que estaria em pleno estado delirante e que me imaginava a trabalhar no Circo Chen, num qualquer número de contorcionismo rodeada por meia dúzia de coreanas... fiz de conta que não ouvi e continuei agachada à espera de uma ideia que fosse realmente digna desse nome.

Eis quando a mesma vizinha que tinha estado a alucinar há uns segundos antes se lembra de se sair com esta: «oiçam lá, isto de porta aberta é que não vai para lado nenhum, vamos pegar na chavinha e fechar de novo a porta, desligamos e voltamos a ligar o elevador e a coisa pode ser que ande...»

A Vespa concordou, a D Maria também, e eu que já nem sabia bem se isso era bom ou mau, também disse que sim, de resto já não me restavam mais alternativas.

Quando vejo a porta a fechar-se tive outro calafrio ... as luzes apagam-se de novo ... acendem-se depois e .... o elevador começou a mover-se !!!!!

Finalmente ... sou puxada em direcção ao rés do chão mas, para minha grande surpresa, a aventura ainda não tinha terminado, passo pelo rés do chão e oiço-as todas contentes a celebrar a vitoria sobre o elevador mas, com grande espanto, não paro e sou sugada para a sub-cave ... já em desespero tento abrir a porta na garagem e não consigo e, como se o elevador tivesse vontade própria, sou de novo sugada, desta vez para cima. Passo de novo por elas já aos gritos «eu não consigo abrir a porta e isto não pára....», já tinha perdido o meu amor próprio e a vergonha e gritava num misto de terror e desespero ... ai vou eu non stop até ao 12º andar, numa penada e sem ter tempo sequer de reagir ... chegada ao último andar o elevador decide ceder e eu abro a porta com a satisfação natural de quem se vê fora deste imbróglio.

Desci a pé os quatro andares até minha casa com a sensação de que tinha acabado de correr a meia maratona de Lisboa...

O reencontro com a Vespa e o Freud foi feliz, e ainda tive oportunidade para recusar gentilmente o chazinho de tília que a vizinha envolvida na operação de resgate me quis oferecer. Agradecimentos feitos, segui caminho para o dia que me esperava.

Para quem estava a pensar começar o dia com uma ida à piscina para uns momentos relaxantes de natação não estive nada mal.

Quando o sorriso voltou à minha cara, o que, para quem me conhece, sabe que não é difícil, pensei no dia bom que me esperava e no final da noite com o concerto de Xutos ... mas isso fica para outras núpcias ...

Caracol Enclausurado

quinta-feira, julho 14, 2005

« Afundação » ...


Foi anunciado, no início do mês, pela mão do Presidente do Conselho de Administração da Fundação Gulbenkian, a extinção IRREVERSSÍVEL da companhia de Ballet dessa instituição, que, por acaso, já contava com uns respeitáveis 40 anos.

O fim da companhia foi enquadrado num panorama de reestruturação - adoro a palavra «reestruturação», esta palavra tem o seu equivalente no mundo do vestuário ao saudoso «vestido preto» da ainda mais saudosa Ivone Silva. Dizia ela, na altura, qualquer coisa do tipo: «com um simples vestido preto, eu nunca me comprometo». O mesmo acontece com as reestruturações. Basta usar-se esta palavra para todos ficarmos de boca aberta a sermos apanhados desprevenidos e sem sabermos bem, nem como nem por onde começar a reagir.

Pode haver quem pense: ora então mas para que é que uma Fundação como a Gulbenkian há-de estar para aqui a sustentar estas mariquices ???? Parece-me muito natural, até porque se trata apenas de um grupo de raparigas com umas sainhas esquisitas e uns rapazotes com um ar muito suspeito com uns collanzinhos apertados que andam para ali aos pulinhos em cima de um «palanque» ... não é ????

Até pode ser para quem não saiba que, para se poder chegar onde eles chegaram são necessários muitos anos de trabalho empenhado. Muitas horas de prática que requerem uma capacidade física e uma concentração acima da média. Muito esforço, suor e lágrimas. Muito amor. E como em tudo aquilo que é feito com amor, a compensação ou a frustração são directamente proporcionais ao empenho e ao afinco do trabalho diário.

Parece-me perfeitamente lógico que, num país como o nosso, se continuem a gastar milhões larguíssimos de euros muitos deles vindos directamente dos cofres do estado (ou, por outras palavras, dos nossos bolsos) em anedotas pegadas como sejam o caso: dos estádios de futebol – uns deles a serem utilizados meia dúzia de vezes por ano, como o estádio do Algarve; em submarinos, que dão um jeitão a qualquer português que more na outra banda para atravessar o rio em dias de greve da Transtejo; em operações militares de treino das forças armadas com nomes tão pomposos como «operação rato mickey» em que se vêm meia dúzia de marmanjos, com um bom cabedal para irem limpar umas matas afim de se evitarem os incêndios que nos devastam todos os anos, a brincar aos barquinhos e aos aviões e a dizerem para um walkie talkie coisas tão interessantes para a estratégia militar cá do burgo como: «alô rato mickey, daqui fala o pato donald ...escuto...», e numa série de outras barbaridades que nos fazem cair o queixo quase ao chão quando somos brindados com os noticiários.

O que não há, no meio disto tudo, é lugar para o trabalho sério, que projecta com orgulho, e pela melhor via possível, o nome de Portugal no mundo. Se calhar é porque já nos acomodamos ao estatuto de cauda da europa, a sermos os coitadinhos, os pobretanas. Já nos habituámos a estar só em primeiro lugar apenas ao nível do consumo de álcool, violência doméstica, violência e ausência de legislação sobre os direitos dos animais, maus tratos em prisões e por ai adiante.

Olhando para o site da Fundação lê-se que se trata de uma Instituição de utilidade pública com diversos fins, entre eles a Arte ... bem, apesar de não ser uma expert, muito longe disso, acho que o Ballet é uma arte. Muito nobre por sinal. O problema é que com o fechar desta porta muita gente vai engrossar ainda mais as fileiras dos desempregados neste já tão pobre panorama cultural. Se existem valores, se existe vontade de trabalhar, se continuamos a ver profissionais empenhados porquê então fechar esta importante porta ??

Exceptuando as honrosas excepções que se foram manifestar junto à Gulbenkian, onde estão os restantes políticos e responsáveis governamentais nestas horas para nem sequer mexerem uma palha no sentido de pressionar e dissuadir decisões incompreensíveis como estas ????

Devem estar a fazer aquilo que melhor sabem fazer ... quase nada.

Caracol Dançarino

quarta-feira, julho 13, 2005

Então e Agora ... ????????

Nunca ninguém disse que isto de se ser CARACOL era uma coisa muito fácil...


Caracol Confuso

terça-feira, julho 12, 2005

O Direito à Diferença ...

Sempre gostei de pessoas. De as ouvir, de estar e falar com elas. Sempre gostei até de pessoas de quem mais ninguém gostava. Sempre me atraíram aquelas pessoas que não se situavam na mediania, que não falavam de coisas banais só porque estão na moda.

Aceito e respeito mas incomoda-me pensar que existem pessoas que vestem, vêem, ouvem ou lêem isto ou aquilo só porque toda a gente o faz. Pessoas que acham que há uma idade para se fazer isto ou aquilo. Que vão a correr casar-se, mesmo correndo o sério risco de serem infelizes, porque têm medo de ficar para «tio(a)s», como se nós fossemos comparáveis a uma lata de feijões que perde a validade de um dia para o outro. Pessoas que olham para tudo o que os outros vestem de fio a pavio mas se esquecem de dar “os bons dias”... e outros que tais.

Lembro-me que uma das minhas maiores amigas da adolescência, com quem me recordo de meter conversa para a tentar conhecer, me chamou na altura a atenção porque toda a gente a achava antipática e esquizóide porque naquela altura, em 1983, ela se vestia tipo punk e usava um alfinete de AMA (obrigada IM...) na orelha.

Não descansei enquanto não fui ter com ela e não me arrependi. Por detrás daquelas roupas e a emoldurar aquele irreverente brinco de alfinete de AMA (obrigada IM...), escondia-se uma das pessoas mais criativas, meigas, interessantes e sensíveis que já conheci.

Cada vez menos acho que faça sentido que se ostracizem as pessoas apenas porque não fazem, não dizem, não sentem, nem pensam da mesma maneira que nós.

Conto-vos isto porque hoje, numa saída matinal para comprar o habitual bolo numa pastelaria que os fabrica divinalmente bem, à saída, e já de bolo na mão, dei de caras com um homem, dos seus quarenta e muitos anos, numa rua em pleno coração de Lisboa, a pavonear-se todo vestido de Batman. Ele era sapato com um tipo de perneira preta que subia até ao joelho, fato cinzento com a celebérrima inscrição do morceguito a preto num fundo amarelo, com direito a máscara com orelhitas e tudo e com uma capa em forma de asas pretas.

Ainda pus a hipótese de ser alguma coisa que tivesse a ver com a publicitação do filme (que, segundo creio, já estreou há alguns dias), mas o fato pareceu-me demasiado artesanal para que o que acabei de ver pudesse ascender à categoria de manobra publicitária. Ele, de facto, não estava nada com ar de quem estivesse a fazer aquilo por dinheiro. Apetecia-lhe e pronto.

Apetecia-lhe ser super herói e era mesmo. Vinha com o ar mais compenetrado do mundo e sempre que alguém olhava para ele era vê-lo a abrir as “asas” que lhe serviam de capa, numa espécie de dança nupcial que o fazia levantar os tornozelos do chão e flectir ligeiramente a cabeça para a frente em jeito de saudação.

É claro que eu, por defeito profissional e por ser uma eterna apaixonada pela observação e estudo do comportamento, fiquei a observá-lo até ele desaparecer do meu campo visual. Era fabuloso vê-lo. Não se metia com ninguém, não era malcriado, não gritava, nem falava. Sorria apenas. E passeava-se, orgulhoso na sua fatiota de super herói, como se o encarnar daquela personagem fabulosa o tornasse imune a todas as provocações e aos risos de alguns transeuntes.

Vou lembrá-lo por muitos anos. Disso tenho a certeza. Ele em mim nem sequer reparou. Se calhar é porque eu sou demasiado igual à generalidade das pessoas... ainda assim Sr Batman, foi um prazer cruzar-me consigo.

Caracol Super Herói

segunda-feira, julho 11, 2005

Tou Que Não Posso ...

Hoje, ressalvando as respectivas diferenças, sinto-me mais ou menos assim ...



Este fim de semana foi bom, muito bom, divertido, cheio, alegre, muito emotivo, com muita cor, companhia dos amigos do costume, mas foi puxado, estou, por isso, espapaçadamente feliz ...

Hoje, depois de almoçar, fiquei com a sensação de que carregava um peso de 50 kilos em cada pálpebra e até tive medo de me recostar na cadeira do restaurante sob pena de adormecer nos 5 segundos seguintes e me começar a babar como o Homer Simpson – dono do fio de baba mais famoso da história da animação...

Por isso o dedo hoje arrasta-se nas teclas, mas, ainda assim, a vontade de vir aqui deixar um post falou mais alto ... por isso ...

Caracol Ensonado

sexta-feira, julho 08, 2005

A Minha VESPA ...


Tenho 35 anos de idade e sou Vespista assumida. Conduzo pelas ruas desta linda Lisboa o veículo de duas rodas mais charmoso e ternurento do mundo.

Juntamente com a minha GRANDE AMIGA, Vespinha (http://vespinha.blogspot.com/) que, para fazer jus ao nome, também pilota orgulhosamente a sua Vespa, de nome Matilde, desbravamos aos fins de semana kilometros de estradas com o ar mais satisfeito do mundo, sempre a sorrir, porque é impossível não se sorrir quando se conduz semelhante veículo.

A Vespa é uma mota com história, e faz parte integrante do mundo das duas rodas, com inteira justiça.

Não há melhor maneira de começar o dia do que subir para aquele assento, carregar no botão da ignição e ouvir o poc, poc, poc, poc, do seu motorzinho a funcionar ... sair da garagem com um ar de que todo o mundo é nosso e contornar, um por um, as dezenas (largas) de carros que estão fastidiosamente em filinha indiana à espera de melhor sorte, do que aquela a que são votados ao terem que estar aos minutos largos sem sair do mesmo lugar.

No caminho matinal, o desfilar de sensações é enorme, tudo parece diferente sem as barreiras que representam os vidros do carro. As pessoas que andam na rua, as pessoas que estão dentro dos carros, os barulhos, os semáforos, as vozes, as cores, os cheiros, as casas, a luminosidade, enfim, todos os sentidos estão mais vivos e a natureza deixa vislumbrar na plenitude a sua paleta de cores.

E a minha viagem prossegue a bom ritmo, um ritmo compassado, sem pressas, sem stress. Porque a Vespa representa totalmente a filosofia do «devagar se vai ao longe», sempre na sua calma, as ruas e avenidas são rompidas do princípio ao fim, sempre ao som do poc, poc, poc, poc do motor, que me acompanha e parece já fazer parte de mim.

Deixo-me levar por ela, sem me dar conta que é por minha causa que se desloca ...

O vento bate-me na cara e trás com ele o cheiro da terra molhada e da erva acabadinha de ser refrescada pela água num qualquer jardim... e o que eu gosto do cheiro da terra molhada ... sorrio de novo, se é que por algum momento deixei de sorrir desde que sai de casa, e continuo... reparo que estou quase a chegar e penso como o tempo passou depressa ... time flies when you’re having fun ...

Tudo nesta mota me fascina ... o modelo em si, o barulho do motor, os acessórios, a posição de condução, o famoso “aventalinho” que faz que as meninas a possam conduzir à vontade, mesmo de saia ... é a mota mais unissexo do planeta e arredores.

Tive o privilégio de ir, com a minha Grande Amiga Vespinha, ao EUROVESPA 2004, o grande evento que reuniu em Lisboa no dia 11 de Julho de 2004 Vespistas de toda a Europa e de todas as idades. E que bom foi ver alguns casais com mais de 60 anos orgulhosamente sentados ao volante da sua mota, a deixarem-se fotografar com o ar mais ternurento desta vida, juntamente com os seus filhos e os seus netos, todos Vespistas.

Foi uma das experiências que seguramente vou guardar até aos fim da minha vida. Éramos larguíssimas centenas e invadimos Lisboa com motas de todas as cores e com modelos dos mais antigos aos mais recentes. Fomos a desfilar orgulhosos da Torre de Belém até à Expo, e por onde passávamos a alegria era contagiante, e as reacções dos transeuntes espelhavam a beleza que a mota deixa transparecer.

Foi um dia descontraído, divertido, sem pressas, alegre, risonho, leve, inesquecível, único e do mais ternurento que pode haver, um dia de paz.

Porque esse é o espírito dos Vespistas.

Caracol Vespúcio

quinta-feira, julho 07, 2005

Apelo


Hoje, e sempre, é nossa obrigação fazer e divulgar o bem e contribuir para causas nobres. Causas em que se empenham pessoas anónimas porque ainda acreditam que podem melhorar a vida dos que os rodeiam.

É bonito saber que continuam a existir pessoas que prescindem de parte do seu tempo para se empenharem em tarefas que visam o bem estar dos outros, tarefas que, a pouco e pouco, se vão constituindo em verdadeiras cruzadas ... um trabalho muitas das vezes «invisível» mas altamente meritório e digno da maior consideração e divulgação.

Por essa razão, solicito-vos, que divulguem, o mais que puderem, o nome da Associação de Protecção aos Cães Abandonados – Canil de São Pedro de Sintra, que precisa de ajuda e de voluntários para os cerca de 180 cães que acolhe neste momento.

Este pedido veio pela mão de uma amiga “blogueira” mas já especial, que lá faz voluntariado e que já “amadrinhou” uma linda cadelinha de nome Bárbara.

Basta acederem ao site através do link
http://www.apca.org.pt/ e lerem tudo sobre a Associação, formas de contribuir, possibilidades de adopção de um «menino» ou de uma «menina» que lá estão, ansiosos por um novo lar. Os contactos estão no site, é só ir lá espreitar.

Convido-vos, então, a todos a lá darem uma saltada, divulgarem pelos vossos contactos e a ajudarem no que, e com o que, puderem.

Tudo de bom minha querida, IM., e que a vida te devolva em dobro tudo aquilo que de bom tu fazes.

Beijo

Caracol Associacionista

quarta-feira, julho 06, 2005

A Minha Avó «Zeca»


Hoje apetece-me falar de saudade. Não aquela saudade que se sente quando nos separamos temporariamente de alguém, mas aquela saudade que leva consigo um pedacinho do nosso coração.

Apetece-me hoje, não por ser uma data especial mas porque todas as datas são especiais para falarmos daqueles que amamos muito. Das pessoas que transportam consigo o amor na sua forma mais pura, das pessoas que vêm a este mundo só com um intuito: o de fazer os outros felizes.

Era assim a minha avó. Mãe da minha mãe, minha mãe duas vezes ...

E eu, que ainda sou do tempo em que a imagem de todas as avós cabia naqueles padrões que não abundam hoje em dia, recordo a minha avó com saudade ao deparar-me com estas avós modernaças, cheinhas de madeixas e com um visual de fazer inveja a muita trintona como eu !!!!

A minha avó «Zeca» (como eu babosamente lhe chamava) tinha o cabelinho branco e encaracolado, que moldava um rosto que para mim era um dos mais belos do mundo, um rosto marcado pela passagem do tempo, que lhe fez nascer umas rugas que faziam daquela cara uma daquelas em que mais me apetecia depositar toneladas de beijos.

Lembro-me de lhe dizer que ela tinha «sobrancelhas de peluche», de tão macias que eram e do deslizar dos meus dedos ao longo daquela penugem de algodão. O sorriso era franco e fazia-se contornar por uns lábios finos. Os olhos eram castanhos, um castanho escuro que se tornava único e ainda mais bonito por colorir os olhos dela.

Desde que me lembro de mim que me recordo dela, com as suas mãos fortes e seguras mas que se tornavam delicadas e suaves quando me tocavam. Lembro-me das corridas que dávamos à volta de uma mesa redonda e de me rir à gargalhada só com aquela brincadeira. E de adormecer ao seu lado. Lembro-me de lhe pedir para me fazer cola com farinha porque a cola da papelaria tinha acabado e eu queria (porque queria) acabar de colar os meus cromos. Lembro-me do carinho com que ela acolheu um cão de caça que eu encontrei abandonado junto à praia (a quem pusemos o nome de «Vigia» porque ele estava sempre com um ar de quem procurava alguma coisa). Lembro-me dos seus braços que me enroscavam em abraços de conforto e de riso. Lembro-me de a ver a fazer crochet e tricot e lembro-me das almofadas lindas que fazia (recordo em particular uma que ela fez em forma de girassol). Lembro-me do tom da sua voz e dos aventais que usava quando cozinhava. Lembro-me de que o único dia em que ela não dispensava um dia inteiro de televisão era o dia do Natal dos Hospitais. Lembro-me de gostar de lanchar junto a ela, as duas sentadas nos degraus que davam para a cozinha. E de lhe dizer que ela era a avó mais bonita do mundo.

E era, de facto, a avó mais bonita do mundo.

O tempo passou, e nós passámos por ele, separadas pelo tecto, mas juntas pelos afectos e pela vida fora, com a cumplicidade que só um grande amor consegue.

O tempo passou ... e num dos primeiros dias do terceiro mês do ano de 1988, eu despedi-me dela, como fazia sempre que estávamos juntas, com um abraço forte e um beijo repenicado. Um beijo que nada teve de diferente de todos aqueles que eu sempre lhe dera. A não ser o facto de ter sido o último.

E porque todos os dias me lembro dela, quis hoje lembrar-me dela convosco.

Caracol Saudoso

segunda-feira, julho 04, 2005

A Racionabilidade dos Irracionais ...


Esta é a história de uma foca. Não a da foca que aparece na imagem mas isso agora também é só um pormenor.

Não percebi o seu nome, se bem que me parecia importante, porque o nome é a nossa identidade e ela também merece inteiramente ter a sua, por isso, a ela, as minhas desculpas.

Foi encontrada em Peniche e levada em boa hora para o Zoomarine onde a trataram e cuidaram, com todo o carinho e dedicação, como, felizmente, é prática comum, e lhe retiraram do estômago um anzol que tinha engolido.

Não se sabia se sobreviveria mas, nesta que é mais uma história de luta, a vontade de viver, a força da vida, falou mais alto e ela vingou. Hoje nada feliz e contente num tanque que, temporariamente, lhe limita os horizontes.

O bonito neste relato, para além do empenho dos funcionários do Zoomarine, é que ela vai ser posta em liberdade no mar alto, onde a única barreira que a vida lhe imporá será a sua vontade de parar de nadar.

Ao ouvir, encantada, mais esta história com um final feliz, detive-me numa frase que disse o biólogo que a acompanhou e que me fez ir a correr pegar numa caneta e escrevê-la num papel para pensar sobre o que tinha acabado de escutar.

Muito embora perceba inteiramente bem que a frase foi dita com a melhor das intenções, para a protecção da foca, para a fazer ganhar autonomia, o seu alcance ultrapassa em larga escala o caso em análise e serve para nos fazer reflectir, e muito, sobre a nossa relação com os animais e sobre a deles connosco. Enquanto falava, o biólogo disse: «(...) durante este tempo tivemos que ensiná-la a ter medo dos humanos (...)».

Não vos queria dar uma grande seca acerca da minha paixão assolapada por todos os animais ... mas vai ter que ser !!!!

Esta frase deixou-me a pensar, mais uma vez, em como ainda temos grandes lições a aprender com estes a quem, carinhosa e ingenuamente, chamamos seres irracionais.

Irracionais são aqueles que os chacinam por peles e outras partes do seu corpo a quem alguém decidiu atribuir valor, e à custa dos quais ganham rios de dinheiro; irracionais são aqueles que os maltratam porque, na maior parte dos casos, eles não se podem defender e pior, não podem falar, nem acusar; irracionais são os que os capturam barbaramente; irracionais são os que os transportam em condições indescritíveis; irracionais são os que os matam por desporto; irracionais são os que os abandonam, lhes batem, os matam à fome e à sede; irracionais são os que descarregam neles as suas frustrações; irracionais são os que deixam de os amar só porque estão velhos, doentes e cansados; irracionais são os pactuam por cobardia, sem tomarem medidas concretas a favor dos direitos daqueles que nunca nos abandonariam se fossem eles os nossos donos.

E ainda bem que eles são «irracionais», caso contrário seria fácil demais ensiná-los a recearem (alguns) humanos ... bastava contar-lhes algumas histórias ou pô-los em frente à televisão a assistir a alguns programas ...

Os animais não têm medo dos humanos porque confiam. E são os humanos, supostamente os seres «racionais», que lhes traem a confiança, que os fazem acreditar e depois lhes puxam o tapete.

Esta foca não receia os humanos porque sabe reconhecer quem lhe quer bem, quem a cuida, quem a mima, quem a alimenta, quem lhe trata as feridas, quem lhe tem amor.

Assim muitos humanos soubessem fazer o mesmo ...

Caracol pelos DIREITOS DOS ANIMAIS

sexta-feira, julho 01, 2005

Os «Subsídiodependentes» ...


É vê-los por aí em cada esquina ... no café, no supermercado, debaixo de uma árvore, na praia, no centro de saúde, no centro comercial, enfim ... em todo lado menos em qualquer sítio onde os possam convencer a trabalhar !!!!

Mas, dentro do espírito que representa o viver à conta dos nossos descontos, não os posso criticar. Se podem receber para não fazer nenhum, porque raio hão-de eles sequer ousar trabalhar para o fisco lhes meter a unha ao bolso e ir, com esse dinheiro, sustentar outros que passam o dia inteiro “a coçar micose” ????

Eu, felizmente tenho o prazer de observar, ao fim de semana e só ao fim de semana - sim porque EU trabalho – alguns desses espécimes ...e devo confessar que já tenho quase uma pós graduação em subsídiodependência ... o que aqueles tipos têm que saber ... foi precisamente ao conhecê-los melhor que comecei (QUASE) a admirá-los ... é que um gajo viver à conta do estado (ou, de nós) requer uma constante actualização de conceitos e um imenso jogo de cintura.

Ficam aqui resumidas as 6 regras básicas de um subsídiodependente :

Regra número um: ser jovem e gostar dos tempos livres;

Regra número dois: nunca ter menos de dois filhos. Sim porque isso de ter só um filho é bom é para quem trabalha e que anda sempre a dizer que se vê grego para sustentar o único filho que tem... o lema do subsídiodependente é: «(...) isto meus senhores, tudo se cria, é preciso é que venham perfeitinhos... onde comem quatro comem cinco ... e sempre são mais uns euros por mês em subsídios (...)» há sem dúvida que ter visão estratégica...;

Regra número três: falar o mais alto possível, que um gajo que anda nesta vida dos subsídios tem que publicitar as suas façanhas ... não convém é abrir muito o jogo não esteja por perto algum caçador furtivo que ainda não conheça uma ou outra regra e se vá fazer também a algum subsídio que até à data desconhecia... neste mundo da subsídiodependência, o segredo é a alma do negócio ... partilhas, só com os amigos do peito.

Regra número quatro: queixar-se muito. A vida dum subsídiodependente é um mar de lamúrias, um oceano de choradinhos, uma vastíssima desgraça, um ilimitado queixume, um infinito carpir. Entre um cigarro, um café e um berro ao filho de quatro anos que, entretanto, anda solto pela rua há mais de 10 minutos, é ouvi-los a lamentarem-se... «vejam só... uma coisa que se resolvia só com um papel, agora obrigaram-me a ir a outro balcão buscar mais um formulário ... estes sacanas devem pensar que tenho o dia todo pr’andar nestas voltas».

Regra número cinco (a minha preferida): saber tudo o que há para saber sobre números de impressos, guias, requisições, credenciais e afins. Um subsídiodependente que se preze informa-se, actualiza-se, procura, pergunta, investiga, anota, confirma, experimenta. Uma das coisas que mais gozo me dá é observá-los naquilo a que vamos designar por «troca de experiências» (troca de experiências com os «amigos do peito», é claro!!!!, vide regra número três). Assim que um experimenta um serviço novo, do qual desfruta, obviamente, sem pagar um chavo, toda a papelada que o levou a obter esse benefício fica gravada na sua memória qual pintura rupestre. Os subsídiodependentes tornam-se então veículos privilegiados de registos de subsídios, verdadeiros repositórios de informação de fazer corar qualquer Pentium 4.

Regra número seis: um subsídiodependente fuma em quase 90% dos casos e tem que gostar de poder comprar tabaco à conta dos contribuintes. Até porque toda a gente sabe que o tabaco mata e, por isso mesmo, o subsídiodependente não gasta o dinheiro ganho com o suor que lhe escorreu da pele a comprar um produto que o prejudica. Assim fuma-o à conta dos papalvos e não lhe pesa tanto a consciência;

E nós, meros «peões da classe operária» olhamos estupefactos para as notícias da televisão e percebemos que temos que continuar a alimentar, cada vez mais, com o dinheiro que nos levam todos os meses, toda esta máquina que não nos dá nada a nós. Sim porque ninguém nos pergunta se queremos fazer descontos para o estado. A única coisa que sabemos, seguramente, é que estamos desgraçados se precisarmos da justiça, dos hospitais, dos serviços das finanças, da segurança social, da polícia, das câmaras e dos outros todos.
Quer dizer, todos estes serviços do estado chegam a nós ... aparecem é sempre tão tarde ... usualmente quando já não precisamos deles para nada...

E enquanto uns se revoltam, outros regalam-se e coçam a barriga... porque têm muito tempo para isso.

Caracol Subsídioanalista